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O que penso sobre a beleza

Vou começar com algumas suposições, não necessariamente subjetivas. Se eu pegar uma tela de Van Gogh e levá-la a um grupo de professores da Universidade de Heidelberg para a avaliarem e pegar a mesma obra e colocá-la à frente de uma tribo indígena no interior da Amazônia, como esse quadro seria avaliado no critério de beleza?


Um pouco diferente, lembro os resultados da Semana de Arte Moderna em 1922 realizada no Teatro Municipal de São Paulo. Os quadros de Anita Malfatti foram ridicularizados. Monteiro Lobato chegou a destruir um deles a bengaladas. O impressinismo estava maduro na Europa, mas o Brasil não estava preparado para recebê-lo e muito menos entendê-lo.


O conceito de beleza em torno do corpo feminino, por exemplo, flutua no tempo e no espaço. No Antigo Egito a mulher bela era a que tinha cintura alta e rosto simétrico. Na Grécia Antiga a beleza do corpo ideal era a do homem, enquanto, as mulheres consideradas versões desfiguradas do masculino, tinham que ser encorpadas e com pele clara. Na Renascença Italiana, seios grandes e pouca cintura. Anos oitenta, era das supermodelos, corpo malhado, mas com curvas, alta e com braços torneados. Já a beleza "oficial" atual, barriga chapada, magérrima, coxas separadas. Mas um padrão na pauta de discussão e rejeição por aqueles que querem uma beleza aproximada com a beleza média natural das mulheres.


O que se constata é a relatividade do conceito de beleza na arte, no corpo e em todas as áreas humanas. Isso vale para a moda, para a alta costura, que exibe roupas que dificilmente serão usadas na vida real. Alguém poderia simplesmente dizer com razão e propriedade: "que mundo louco!"...


Nessa altura, preciso admitir que o meu "belo" pode não se enquadrar no padrão coletivo ou oficial. O sociólogo americano Peter Berger costumava definir a sociedade como um baile de máscaras. Junto com os outros, temos um tipo de gosto pelo belo. Na hora do pijama, nosso padrão pode ser bem diferente. É que na hora do pijama estamos apenas conosco e somos absolutamente sinceros com aquilo que apreciamos. Portanto, meu conceito de beleza, muitas vezes é aquele que eu escondo da opinião pública.


A beleza é algo muito pessoal. A beleza tem que provocar uma emoção interna que os gregos chamavam de "aistesis", de onde vem a palavra estética, ou seja, aquilo que faz vibrar. Nesse caminho, a beleza pode ser achada nas coisas mais simples como o brotar solitário de uma pequena flor no meio das pedras de uma calçada. O trinar de um pássaro no meio dos arbustos, mesmo sem vê-lo. É enxergar uma criança abraçando um idoso. É o cavalheirismo diante da porta de um elevador, quando um homem através de um gesto me indica que eu tenho a preferência para entrar. Beleza é quando um jovem cede o lugar ao mais velho no metrô lotado. A beleza está na gentileza, na discrição, na humildade.


As pessoas são belas quando não procuram ser a figura central no grupo. A discrição é um tipo de beleza.


A atriz Julia Roberts é bela não pelo seu corpo, pelo seu rosto, mas pelo seu largo sorriso e pela sua maneira suave de falar e pelo carisma que a ilumina por onde ela circula.


A beleza não é apenas para os olhos. É para o coração. Ela nos faz entrar numa espécie de estado de graça, provoca uma arrebatação. E esta é uma emoção muito pessoal.


Tudo isso vale também para o arrebatamento sob o contemplar de um céu cheio de estrelas no silêncio mais puro de um lugar solitário. Saint-Exupéry escreveu que o deserto é belo porque em algum lugar ele esconde um oásis. Que o império do homem é o interior. Assim um invisível oásis nos enche de encantamento.


A beleza é aquela emoção que vem do fundo de mim mesma depois de enxergar algo que me tocou. A verdadeira beleza é aquela que me faz sentir bem.


Tudo o que nos enleva, tudo o que nos enche de íntima satisfação, isso é a beleza. Isso é beauty.


Uma cena como essa que fotografamos na França, em Bayeux, em 2014, onde o economista Philippe Liger-Belair e a sua esposa Anne-Laure brincam com filhos Adrien, 5 anos e Martin, 4 anos, é uma cena de beleza.


Philippe Liger-Belair brincando com os dois filhos Adrien e Martin. Outro momento belo.

Um momento belo no dia 6 de junho de 2014, no Cemitério Inglês, em Bayeux, uma menina pedindo um autógrafo ao veterano do Dia D. Há uma enorme beleza no olhar da menina e no contraste ente as duas idades, conciliando dois mundos distintos, a infância e a velhice.


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