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Como você se enxerga?

Autoestima


Há uma estreita relação entre os que os outros vêem em nós e como nós nos enxergamos. E há um mundo que nos bombardeia todos os dias com pródigas imagens de modelos de beleza física, padrões de moda e elegância, novas solicitações de comportamento, o culto aos valores ditados pela maioria sem o direito de questionamento.


Esse assédio ambiental permanente, onipresente no smartphone que a cada momento despenca informações novas, contados novos, "amigos" novos. Novo, sempre novo. Novas ideias, novas palavras, novos chamarizes (tatuagens, corte de cabelo, cor do cabelo, memes para selfies, etc, etc). Enfim, as redes sociais como polvos gigantescos com milhares de tentáculos agarram-se, tomam posse das mentes de todo mundo.


Parece que é essa invisível rede toda poderosa que nos dita a todos nós o que é bonito, o que devemos vestir, o que devemos gostar, o que devemos endeusar e cultuar. Quem não se sujeitar, está fora.


Cabe aqui a pergunta: como é que eu me enxergo? Cabe outra pergunta: como é que me sinto com o que eu vejo em mim? Como é que me sinto diante do olhar dos outros? Qual a importância que tenho dentro dos meus grupos de convivência?


Faz parte da natureza do ser humano o desejo de ser reconhecido, de ser aceito e de ter o afeto das pessoas com quem convive. Faz parte da natureza humana a pessoa querer ser bonita ou parecer bonita. Todo mundo tem sua taxa de vaidade e uma extraordinária necessidade de mostrar de si o que há de mais bonito.


Basta olhar o facebook, o instagram e outras redes sociais. As pessoas fazem questão de colocar a melhor foto de si e mostrar a sua melhor aparência.


O contexto disso tudo diz respeito a uma necessidade básica em torno da qual giram em círculo a autoimagem e a autoestima. Uma depende da outra. Uma completa a outra. Ambas são interdependentes.


A cantora americana Meghan Trainor tem uma canção onde ela canta: "I love me, hey, / I love me, hey / I don't know about you, but baby I love me / ..." , que significa "Eu me amo, hey, Eu me amo, hey... Eu nada sei a teu respeito, mas eu me amo...".


A letra musical aborda um tema muito atual e bastante recorrente na terapia, o delicado problema da pessoa se aceitar e gostar de si mesma. A autoestima é isso mesmo, ela precisa desse componente que Meghan Trainor canta: "I love me..." "Eu me amo...". Claro, isso muitas vezes é bastante difícil diante de uma encarada frente ao espelho. Nem todos enxergam o reflexo de um Brad Pitt ou de uma Angelina Jolie, que junto formam um dos casais mais bonitos do mundo.


Brad Pitt e Angelina Jolie, considerado um dos casais mais bonitos do cinema.


A autoestima, que por extensão que se relaciona com a autoimagem, tem ainda vários outros fatores que se retroalimentam, alguns de cunho psicológico, outros de cunho social e familiar. Por exemplo, pela lógica da beleza, do talento e do dinheiro, Angelina Jolie deveria ser uma das pessoas de maior autoestima. O "gênio" forte da atriz faz dela muitas vezes uma pessoa cheia de conflitos, que dificulta o seu relacionamento com o marido e com os colegas de trabalho. A autoestima precisa ser alimentada de afeto. O afeto dos outros, o dos que nos cercam, isso é muito importante. Precisamos sentir-nos queridos, apreciados, aceitos pelos outros. Não basta o cetro de miss universo se a personalidade tempestiva e agressiva afugenta.


Aqui chego a um outro patamar. Conheço pessoas que não são bonitas mas que nem por isso não deixam de ser simpáticas, atraentes e de extraordinário convívio social.


Sou jornalista e não psicóloga e até me acho um pouco intrometida num assunto de área alheia, mesmo assim, me atrevo a entrar num assunto tão complexo. Mas eu sei que não existe um botão que a gente possa apertar para nos enchermos de autoestima. Por isso desconfio de muitas autoajudas que prometem milagre no refrão repetido infinitamente: eu gosto de mim, eu gosto de mim. Mais ou menos como Meghan Trainor repete na sua canção: "I love me, I love me.."


O ser humano é algo bem mais complexo e sua autoimagem e autoestima não podem ser adquiridos em cima de artifícios verbais. Com o passar dos anos começo a acreditar que nossa autoestima aumenta cada vez mais quando enfrentamos uma crise e a conseguimos suplantar com o cerco carinhoso dos outros. Ter pessoas que nos apoiam com sinceridade é o melhor antídoto contra a solidão e a depressão, que são as sequelas negativas quando nos falta a autoestima.


Dizem que David Copperfield, quando criança vivia cheio de sentimentos de inferioridade. Buscava o seu conforto na leitura de livros de contos de fadas. A imersão nesse mundo deu-lhe confiança em si mesmo e aos dezesseis anos ensinava mágica na Universidade de Nova Iorque. Sua pessoa chamava atenção, chegando a namorar com a então modelo internacional Claudia Schiffer. Fundou o Project Magic, um programa de reabilitação para pacientes com deficiência reconquistarem habilidades perdidas ou danificadas e, por conseguinte, o assunto dessa matéria, a reconquista da autoestima desses pacientes.


Sei que não esgotei um tema tão vasto. Mas sei também que a nossa vida acontece entre dois opostos. Entre a aceitação e a reprovação e todas as variáveis entre esses extremos. Entre os sentimentos negativos, o da rejeição é o mais doloroso. Sei que receber a aprovação de outras pessoas ajuda a todos a enfrentar os temores mais apavorantes. Nossa sensação de vulnerabilidade se dilui porque sentimos que estamos amparados. Mas não podemos esperar que os outros resolvam as nossas carências. Cada um pode fazer algo por si como o fez David Copperfield. Entregou-se à leitura assídua ao invés de ficar lamuriando as suas vicissitudes.



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